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Cidades para Pessoas na Bienal de Arquitetura

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Após seis meses viajando por sete cidades pelo mundo, o Cidades para Pessoas foi convidado a participar da 9.a Bienal de Arquitetura, em São Paulo. O projeto já passou por Copenhague (Dinamarca), Amsterdam (Holanda), Londres (Inglaterra), Paris (França), Estrasburgo (França), Friburgo (Alemanha) e Lyon (França) e compilou 12 ideias apuradas nessa primeira fase que poderiam ser aplicadas para melhorar cidades brasileiras. Para a participação na bienal, essas propostas foram representadas em um cartaz criado pela artista plástica Juliana Russo, que as ilustrou em um mapa da cidade de São Paulo.

cartaz exposto na Bienal de Arquitetura

Algumas das ideias propostas são mais simples de executar, como uma rede de sinalização que sirva não só aos carros, mas as pessoas que se locomovem à pé, de transporte público ou de bicicleta pela cidade. Outras já são mais complexas, como a despoluição e mudança de função dos rios que passam pela cidade. Mas a proposta do cartaz era justamente mesclar propostas de curto e médio prazo, todas como foco em melhorar as cidade para as pessoas. São Paulo tem se tornado cada vez mais uma enorme superfície de passagem. O objetivo desse cartaz era compilar ideias que tivessem como objetivo a recuperação dessa cidade que existe no meio do caminho. Criar um cenário de encontros entre as pessoas e encorajar outras formas de se locomover e de interagir com os espaços públicos.

O planejador urbano dinamarquês que inspirou o Cidades para Pessoas, Jan Gehl, disse em sua entrevista ao projeto que uma criança nunca pede de natal algo que não conheça. Da mesma forma, mesmo que todos queiram uma cidade melhor, é preciso saber como a cidade pode ser melhor, para, então, pedir as coisas certas. “Se as pessoas não conhecerem bons exemplos sobre como o espaço urbano pode se adequar a elas, vão continuar a reivindicar as coisas erradas, como mais ruas para serem percorridas por mais carros, por exemplo”, diz Gehl, entusiasta da utilização das bicicletas como meio de transporte. Pois bem, aí vão 12 propostas que podem aumentar seu repertório e – espero – te farão acrescentar novos ítens à sua lista de pedidos de natal para sua cidade.

(A bienal de arquitetura está na Oca e pode ser visitada de terça a domingo das 10h às 22h até o dia 4 de dezembro. Os ingressos custam R$ 10)


cartaz e desenho sobre a parede da artista plástica Juliana Russo na Bienal de Arquitetura

É possível nadar em rios que já foram muito poluídos.
Em Copenhague, por exemplo, os canais que passam pela cidade eram extremamente poluídos até 1996, quando começou a ser colocado em prática um projeto de revitalização da água e suas margens. Hoje a água é limpa e há piscinas públicas nos canais das cidades.

As decisões sobre o futuro da cidade precisam envolver participação popular.
Em Londres e Copenhague há canais on line da prefeitura em que os projetos do poder execuvito são expostos à opinião pública. As manifestações dos cidadãos não possuem poder de veto, mas um documento sobre a média das opiniões postadas nos sites são compiladas em um documento final, também publicado pela prefeitura e levados em conta na decisão final – pelo menos é o que garantem membros das duas prefeituras. As duas cidades, assim como Paris e Lyon, estão tentando adaptar a ideia surgida no sul do Brasil de orçamento participativo – para que a população possa participar das decisões sobre como o dinheiro público será gasto. “Há alguns exemplos de boas práticas, mas fato é que o povo precisa ter canais de participação na construção das cidades”, disse ao Cidades para Pessoas o professor Yves Cabbanes, da University College of London, que é envolvido com diversos movimentos de engajamento cívico.

A cidade deve ser sinalizada para todos, para encorajar outras formas de locomoção além do carro.
Já percebeu como as sinalizações das cidades brasileiras servem, em sua esmagadora maioria, as pessoas que se locomovem de carro? Em Londres, a cada cinco minutos caminhando eu me deparava com um painel mostrando um mapa das região em que eu estava, com as ruas que ficavam em um raio de 1 quilômetro e a direção dos principais bairros da cidade. Também na capital inglesa, como em Copenhague e Paris, haviam mapas nos pontos de ônibus e metro que me orientavam sobre como me locomover de transporte público pelas cidades. Sinalização para outros modais é uma medida simples que poderia diminuir a dependência do carro e encorajar outras formas de locomoção pela cidade.

É necessário um conselho de técnicos de áreas estratégicas ligado à prefeitura.
Em Londres há um conselho de técnicos em saúde, gestão dos rios, esgotos, habitação, mobilidade, entre outras áreas, que emite pareceres sobre projetos políticos que são levados em conta antes de sua execução. A presença de um conselho como esse é importante para evitar medidas “grotescas” como a ampliação das pistas da marginal Tietê, importante via de São Paulo, que impermeabilizou parte das bordas do rio e, mais uma vez, priorizou o transporte individual em detrimento do público na mobilidade urbana da capital paulista.

Agricultura urbana ajuda a conter enchentes e abastece bairros com produtos orgânicos.
Cultivar alimentos em regiões próximas das grandes cidades (ou dentro delas) melhora o impacto gerado pelo abastecimento de comida nesses centros urbanos. Se escolhidas bem, as áreas de agricultura urbana podem permeabilizar regiões estratégicas para ajudar a conter problemas de enchente e alagamento, que são justamente causados pela falta de escoamento da água da chuva, já que uma superfície muito grande da cidade está impermeabilizada pelo asfalto. A agricultura urbana também pode funcionar como um cinturão verde ao redor da cidade que contem seu crecimento – algumas partes de Londres, por exemplo, são contidas por grandes áreas de plantação de legumes e hortaliças.

Nosso clima é quente. Precisamos de espaços públicos para aproveitá-lo.
Em Paris e Londres, por exemplo, as regiões nos bordos dos rios Tâmisa e Sena viram, durante o verão, “praias artificiais”, com bancos de areia, áreas para se banhar e atrações públicas e comerciais para que as pessoas simplesmente aproveitem o calor – que é celebrado energicamente nas cidades européias. No Brasil, o recurso do calor é abundante, mas se tornou um problema porque não temos espaços onde aproveitá-lo. É muito comum ouvir, em São Paulo, pessoas se queixando do “calor infernal” da cidade. Isso acontece porque a capital paulistana está coberta de concreto e asfalto, o que inviabiliza o aproveitamento de climas mais quentes. Temos que usar o calor a nosso favor, não contra nós. Praças, piscinas públicas, tetos verdes, fontes são alguns exemplos retratados no mapa.

É preciso investir na rede de catadores de recicláveis e na gestão local de lixo.
Em São Paulo há um dado divulgado em 2010 pela ONG Nossa São Paulo de que, da coleta de lixo oficial, apenas 1% dos resíduos é reciclado. Esse dado, no entanto, não leva em conta as redes informais de catadores de recicláveis, que acabam sendo os grandes responsáveis pelo lixo que é reciclado na cidade. “Temos que aprender a nos apropriar da lógica da informalidade, não tentar erradicá-la”, disse ao Cidades para Pessoas o especialista em informalidade como ferramenta de planejamento urbano Jorge Fiore, professor da University College of London.

Consumo colaborativo pode melhorar a relação das pessoas com o espaço público.
A pesquisadora brasileira Camila Haddad acaba de apresentar sua tese no Department of Urban Planning da University College of London sobre Consumo Colaborativo. “Esse é o nome que se dá ao ato de consumir não um bem, mas seu benefício”, explica ela. O melhor exemplo que se tem em grandes cidades são os carros ou bicicletas de aluguel. Nos sistemas francês (Velib) e inglês (Barclays) as bicicletas de aluguel podem ser retiradas e devolvidas em pontos diferentes do centro da cidade e diminuem a necessidade de possuir uma magrela para se locomover com ela pela cidade. Já os sistemas de carros compartilhados, além de fazerem bem ao bolso também encorajam deslocamentos com transporte individual apenas quando for realmente necessário.

Organizações de engajamento cívico são tão importantes quanto o poder público.
Tão aclamada por diversos dos entrevistados pelo Cidades para Pessoas, as organizações de engajamento cívico são numerosas em São Paulo. No mapa apresentado na 9a. Bienal de Arquitetura, estão representadas as seguintes organizações:
Expedições Rios e Ruas
Pedal Verde
Pegada Berrini
Mão na Praça
Bike Anjo
Cidade Democrática

O uso dos carros precisa ser restringido ao máximo nos bairros centrais da cidade.
Quanto mais essas regiões foram percorridas à pé, de bicicleta ou transporte público, mais fácil será revitalizá-las – e mais interessante será a experiência de passar por elas ou permanecer nelas.

Bicicleta é um meio de transporte bom para a economia e a saúde da cidade e das pessoas.
Em Copenhague há uma equação com fatores como tempo de locomoção, necessidade de investimento em saúde pública e infra estrutura que mostra que bicicletas fazem a cidade ganhar dinheiro. Segundo essa equação, a cada quilômetro percorrido de bicicleta a cidade ganha o equivalente a R$ 0,70, enquanto que a cada quilômetro percorrido de carro a cidade perde R$ 0,30. A cidade sai ganhando e quem faz essa opção também: não é difícil concluir que pedalar é o jeito mais econômico de se locomover.

A cidade precisa do maior número possível de opções para se locomover.
“A boa cidade é a que tem o melhor número de opções para se locomover”, disse ao Cidades para Pessoas o planejador urbano Jeff Risom, do escritório dinamarquês Ghel Architects. “Em vez de pedir por ‘mais ciclovias’, ‘mais ruas para transitar de carro’ ou ‘mais metrô’ é preciso pedir por ‘mais opções”, explica ele. Quanto maior o número de opções menor a dependência dos carros (ou de qualquer outro modal) e mais interessantes ficam os deslocamentos pelos espaços públicos.


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